“E aí, blza? Tô aqui pra falar de um assunto um pouco mais sério, nossos representantes no Congresso e A Rádio Rock.
O que uma rádio tem a ver com política? No nosso caso, uma música.
Preciso explicar um pouco mais, então vamos lá. Não é uma resposta rápida e peço antecipadamente um pouco de paciência, e também já me desculpo por algumas generalizações e simplificações exageradas.
Quem já foi a algum show do Capital já deve ter me visto espinafrando políticos. Reconheço que há uma ponta de ironia nisso, já que meu pai é um cientista político e talvez fosse de se esperar que eu me alinhasse a algum partido. No entanto, não me sinto representado por ninguém. Preciso dizer, antes de mais nada, que estou falando em meu nome, e não no nome do Capital.
Na banda, cada um pensa de um jeito, e, com frequência, discordamos.
Bom, eu reconheço e aplaudo os avanços sociais dos últimos anos, embora eu os considere tímidos. Acho que nesse ponto todos concordamos que ainda temos um caminho longo pela frente. E para que consigamos chegar lá, na minha opinião, o grande obstáculo são nossos políticos.
Nosso sistema é peculiar, às vezes parece Parlamentarismo, na medida em que o poder é dividido entre os partidos que apoiam o governo, e às vezes parece um Presidencialismo com uma tendência à mão pesada, visto o número de medidas provisórias e o poder exagerado do governo central.
Neste relacionamento entre partidos e o poder surge nosso principal problema, o fisiologismo. Eu sei que estou dizendo uma obviedade, um lugar comum. Mas o fato é que esse fenômeno contaminou todos os governos pós ditadura. As alianças que, tanto o PT quanto o PSDB fizeram tiveram que descaracterizar seus discursos e, no final, seus governos. No Congresso há uma miríade de Partidos que em sua imensa maioria não representam nada e ninguém fora seus próprios interesses. De interesses estritamente pessoais a interesses de poderosos grupos e o interesse de manter-se no poder, custe o que custar.
Na realidade, é como se princípios ou ideologia tivessem se tornado irrelevantes, quando não um anacronismo a ser evitado. Porém, é desse cipoal de siglas, que nasce a incapacidade de superarmos nossos problemas. Simples assim!
Lula disse, há uns bons anos atrás, que o Congresso Brasileiro era um lugar com trezentos picaretas com anel de doutor. Não sei qual é o número preciso deles; Lula deve saber melhor do que eu. Mas a ideia está certa. Qual é a gravidade ou relevância disso? Funciona assim, os governos são obrigados a compor alianças muitas vezes incompreensíveis em nome da dita governabilidade, que por sua vez nada mais fazem do que garantir um estado disfuncional.
Foi com essa percepção da nossa realidade que escrevemos Saquear Brasília, uma canção do nosso disco novo. Essa canção, por sua vez, acaba de ser abraçada com entusiasmo pela Rádio 89 (que voltou a ser rock).
Eu suspeito que o público, tal como a Radio Rock, também espera das bandas nacionais uma seriedade e engajamento que existia, e no entanto parece ter se dissipado ao longo dos anos. Inclusive no Capital. Não me sinto bem dando lições a ninguém, e acho que é possível fazer boa música sem ser politicamente engajado. O rock é cheio de exemplos disso! Também não pretendo tentar levar o Capital a fazer só isso, a se tornar monotemático. Mas, indiferentemente do assunto sobre o qual o artista escreve, acredito que o público queira e deva ser levado a sério.
É isso aí, boas vibes à 89, que seja bem-vinda de volta a rádio rock!
Valeu, Dinho.”
Fonte: Página Oficial do Capital Inicial no Facebook